Pesquisar este blog

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Papai Noel não existe



Ela chorava, chorava e chorava mais um pouco. Seus soluços eram baixos, mas por dentro algo gritava, um grito alto e ao mesmo tempo abafado, um grito que apenas a sua alma ouvia e que representava toda a dor que ela sentia. Ela descobriu tudo. Então, tudo era uma farsa... Uma mentira de anos e mais anos... Uma mentira que quebrou sua inocência, uma mentira que lhe partiu no meio diversos sonhos, que quebrou a sua magia de Natal.

Durante todos aqueles maravilhosos dias de Natal, era esperou para descobrir como ele era. A figura do bom velhinho. Ela planejava toda vez ficar acordada até o amanhecer e descobrir como ele era, qual era o seu jeito e o que ele faria quando a visse. Porém, esse dia nunca chegou.

Ali, trancada no seu quarto, encolhida dentro do seu guarda-roupa, ela chorava cada lágrima de dor que o impacto da verdade lhe causara. Alguns anos mais tarde, ela refletiria sobre esse dia, iria rir da sua inocência de tanto ter chorado, mas iria concluir o quanto a realidade dói muito em uma criança, e o quanto a realidade é fácil de aceitar para o adulto. Aquele foi seu primeiro pequeno grande passo para a sua mente adulta, mas isso só mais tarde ela iria entender.

Agora ela sofria muito com a verdade. Seu plano foi um triunfo, mas também um fracasso. Seus pais batiam na porta, lhe chamavam... Mas ela ignorava. Agora doía demais, tudo doía demais... A verdade é horrível. É cruel. É escura. É um labirinto que nos prende e do qual nunca mais saímos... É um labirinto que nos mata por dentro e cria essa imagem inútil de gente adulta, de grandeza, de sabedoria, quando os sábios mesmo são as crianças.

A verdade doía. Mas depois que é descoberta, não há mais mentira no mundo que consiga tapar o buraco que ela cria. Ela encostou sua cabeça na porta do guarda roupa, ainda com as lágrimas afogando o seu rosto, e repetiu para si mesma, para se convencer de tudo:

- Ele não existe. Papai Noel não existe...


MarinaV.

Nenhum comentário:

Postar um comentário