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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Infinito


Tudo começou com uma simples sala de aula que - apesar de simples - era seu ambiente de convívio durante mais da metade do seu dia. Ela estava no fundamental ainda, 2º ou 3º ano. A professora, assim como os alunos, cansada de tarefas, resolveu passar, naqueles últimos dias de aula, um simples desenho. O tema era livre. E ela tinha lápis à vontade para pintar toda uma folha. E um tempo enorme para fazer aquilo... Iria ser um desenho longo, cheio de cores e vibrações.

Porém ela lembrou do colar da irmã. Aquele colar que ela achou no lixo. O colar da moda. Afinal de contas, quem ainda não tinha um colar com o símbolo do infinito? Todas as meninas tinham um para enfeitar o pescoço. Mas a irmã recusara aquele, ou melhor, usou-o por pouco tempo, pois quem havia lhe dado era o seu namorado, o qual ela tinha se separado justamente no dia daquele momento de arte do colégio. Ela tinha visto a irmã chorando antes de sair de casa, e viu também a irmã indo pro colégio enxugando cada lágrima, cada mágoa... Até que por fim, atirou o colar na primeira lixeira da escola.

Aquele colar tinha o símbolo do infinito. Sua mãe lhe explicara que o infinito era algo que não tinha fim, não tinha tamanho, não tinha dimensão. "E o que é infinito, mãe?", perguntou ela, quando sua mãe lhe disse que infinito era o amor que tinha por sua família, que infinito era o Universo. E então a menina agora sabia o que era infinito.

E ali, no papel branco, desenhou um fundo azul estrelado, com três caixas no meio, todas enlaçadas por um laço lindo e enorme, que deixava as três caixas juntas e inseparáveis, uma laço vermelho e forte. Acabou seu desenho antes que os outros alunos, pois não usou muitas cores. Usou apenas três cores, uma para cada caixa: azul, rosa e verde. E então, finalizando o seu quadro artístico, simplesmente parou e foi pegar uma revistinha em quadrinhos para ler.

Depois de algum tempo, quando a professora resolveu passar por cada aluno para ver como estava o andamento das obras de artes, parou em uma menininha ruiva, de cabelo cacheado, muito branquinha e dos olhos verdes, com as bochechas bem vermelhinhas, simplesmente lendo um gibi. E então seguiu-se um diálogo inesquecível e lindo, que ficará para sempre na memória daquela professora.

- Já terminou, minha linda?

Ela respondeu sem desgrudar os olhos da revistinha: - Sim.

- E eu posso ver o seu desenho?

- Pode, ele está aqui - E então ela entregou o papel do desenho, ainda focada no gibi.

A professora, depois de muito analisar o desenho, perguntou:

- E para quem são esses lindos presentes?

- Para todos nós - respondeu a menina, agora olhando para a professora.

- E eles couberam apenas nessas caixinhas?

- Na verdade, eles cabem dentro de cada um de nós...

- Como assim?

- Esses presentes são a esperança, que é a caixa verde, a paz, que é a caixa azul e a bondade, que é a caixa rosa. Todos eles têm que ser enlaçados com o amor, que é o laço vermelho, para terem a dimensão do infinito, que é o Universo, onde as três caixas foram colocadas.

- De onde você tirou toda essa ideia? - Perguntou a professora, intrigada com o que a menina tão nova lhe disse.

- Minha mãe me disse o que era o infinito. E aí eu fiz esse desenho. Esse laço vermelho, que representa o amor, tem a mesma forma do símbolo do infinito.

- E por que você desenhou isso?

- Porque eu quero mostrar esse desenho para a minha irmã. Explicar para ela que seu namorado não teve um amor infinito por ela. E que, por isso, ele deixou apenas a tristeza, a maldade e a raiva no coração dela. Mas ela ainda vai achar alguém que saiba amá-la infinitamente, alguém que plante nela a paz, a bondade e a esperança, para que assim ela ache o seu Universo.

MarinaV.

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