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sábado, 9 de outubro de 2010

Ouro de tolo


Todos os dias eu acordo cedo e vou para o mundo das obrigações. Todos os dias eu ocupo os meus dias de preocupações, de responsabilidades e de conhecimentos. Todo dia eu leio sobre mil assuntos, entendo de política, filosofia, religião e matemática. Anoto detalhes de aulas e presto atenção no mundo.


Todos os dias eu faço a mesma coisa. E essa mesma coisa não preenche o meu ser que realmente vive, que ainda se diz vivo, mesmo que morto pelo cotidiano, dentro de mim. Aquele ser que sabe que a realidade é algo decadente, que a verdade dói muito mais que a mentira e que a ingenuidade é uma mentira vivida na infância na qual futuramente saberemos que jamais deveríamos sair.


Todos os dias eu tomo conhecimento de coisas absurdas, de coisas que não mudam em nada minha vida, de coisas que jamais usarei ou ensinarei aos meus filhos. Aprendo noções mirabolantes, que muitas vezes não entendo, estudo uma jorrada de conteúdos que nunca entendo a ordem nem o motivo, mas finjo que gosto e que quero prestar atenção.


Todos os dias me vejo trancada em uma sala cheia de gente que jamais saberá o que eu estou pensando e que jamais saberá da minha vontade de criar asas e voar para longe de tudo aquilo que me cerca. Porque enquanto estou ali trancada aprendendo uma série de coisas inúteis, poderia estar lá fora vivendo de viagens e vendo as paisagens do mundo, escutando os mais velhos contarem histórias da sua infância, escutando o barulho do vento no mar, sujando meus pés de areia, tirando fotos do azul do céu, prendendo flores nos meus cabelos, sorrindo sozinha para o sol, dançando no ritmo da brisa da noite...


Todos os dias tenho o desejo de me desacorrentar, de sair desse sufoco que me cerca. Mas continuo seguindo o cotidiano inútil de conhecimentos capitalistas, fingindo que estou aprendendo, fingindo que estou gostando. Enquanto isso, lá fora, o vento me chama para brincar na beira do mar, com flores nos cabelos, com um céu azul e um sol radiante.


MarinaV.

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