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sábado, 23 de outubro de 2010

Olhar da intimidade


Desde pequena, enxergava algo errado nos olhos das pessoas. Percebia que ia muito de acordo com a simpatia do olhar. Dependendo do olhar das pessoas, eu aceitava ou não a presença e a fala delas. O olhar era algo sagrado para mim. Algo que tinha um significado muito além do que o que eu poderia imaginar, ainda criança, ao mesmo tempo que é algo muito fácil de entender agora, já um pouco mais madura.

Gostava dos olhos da minha mãe. Além de serem bem sinceros, eram olhos sofridos, olhos de alguém que já havia passado por muita coisa da sua longa trajetória da vida, coisas que eu futuramente iria saber detalhadamente, mas coisas que me foram ocultas na infância por me acharem ainda inocente demais. Porém, ninguém sabe, mas hoje eu sei o quanto não fui inocente e o quanto tive pouco de criança.

Gostava dos olhos do meu pai. Eles sempre demonstraram seu estado de espírito, eram como uma porta aberta para saber como estava o seu humor e a sua cabeça. Sempre foram. Eles me passavam uma sensação de superproteção da qual eu acreditava que nada no mundo seria capaz de me atingir física ou psicologicamente, e mais tarde, durante o seu mestrado, descobriria o quanto passaria horas inúteis tentando dividir meus acontencimentos diários e depois de muita fala, descobriria olhos vazios vagando por um passado histórico que não muito me interessa, nunca me interessou muito.

Mais futuramente, já entrando em um período de reviravoltas na minha vida, descobriria o olhar da minha irmã. Este sim, era o olhar da inocência. É o olhar que me dá alegria, que inúmeras vezes me fez sorrir simplesmente pelo prazer de fitá-lo bem seriamente e descobrir um sorriso no seu rosto infantil. Ela sim, teve e tem toda a criancice que eu jamais tive, e talvez seja por isso que eu me complete tanto quando estou com ela. Talvez seja por isso que minha vida vira um desencaixe sem o seu olhar.

Hoje, depois de tantas interpretações de olhares ao longo da minha vida, não me consigo imaginar sem observar olhares. Sem encaixar meus olhos nos olhos brilhantes e realistas da minha avó, sem descobrir o olhar protetor do meu primo, sem o olhar alegre das minhas amigas, sem o olhar preocupado delas quando me veem triste... Os olhares compõem minha vida.

Porém, o olhar que mais me agrada é o olhar da intimidade. É aquele olhar que eu descubro quando chego triste no colégio e ninguém precisa perguntar o que tenho, pois todos já sabem que eu estou triste, e que não importa o motivo, eles estarão lá para me ajudar. É aquele olhar quando você quer tratar de um assunto particular e aquela pessoa lhe chama pro canto. É aquele olhar de subentendidos após um beijo ou um abraço, aquele que se é fitado por apenas uma fração de segundo, e se fica guardado na memória como horas e até dias. É aquele olhar de duplo sentido, aquele que precede um beijo de amor fervoroso, um beijo que mexe com o mais profundo de um ser que realmente sente. O olhar da intimidade é o olhar que todos guardamos para nos revelar para aqueles que realmente amamos. Por isso, ele é o sinal de um grande amor ou de uma grande amizade.

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