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terça-feira, 17 de agosto de 2010

45%


Eu não vi, mas ouvi meu professor de literatura, Alex Romero, lendo um jornal em sala de aula, um jornal que não passou pelas minhas mãos. Não quero sujar minhas mãos com esse número tão vergonhoso e tão crítico. Ele leu em alto e bom tom para os quase 30 alunos da sala ouvirem perfeitamente, que 45% DOS JOVENS BRASILEIROS NÃO LEEM SEQUER UM LIVRO POR ANO. A essa naçãozinha de nacionalistas hipócritas, que há poucos dias estava gritando que amava o seu país, que dava tudo para o seu país na copa, não demonstrou nenhum tipo de revolta com relação a esse número. Claro que o fato de termos sido o oitavo melhor país do mundo em futebol revoltou a todos, mas 45% dos jovens brasileiros sem ler um livro é normal. Virou normalidade.

Já tinha visto casos um tanto absurdos na minha vida. Mas nunca tinha visto um caso tão absurdo como este, da pessoa se matar por dentro, se deteriorar, se destruir aos poucos. Sim, se destruir. Afinal de contas, para quê uma pessoa sem leitura serve no mercado de trabalho? Qual o impacto que uma pessoa sem leitura causa nos outros? Qual a função de um ser que lê pouco e não construiu caráter, habilidade, compreensão e, principalmente, inteligência? Claro que são casos absurdos o de matar a própria filha (Nardoni), o de matar a namorada para não pagar pensão (goleiro Bruno), o de matar a filha da mulher a não sei quantas facadas e estuprá-la (caso aqui de Teresina)... São todos casos absurdos. Mas nunca tinha visto toda uma nação se destruir conjuntamente e se deixar levar pela burrice como a nossa.

O que nós brasileiros estamos pensando disso? Estamos esperando que o nosso candidato não nos enrole? Não seja corrupto? Não roube, não engane, não cometa crimes? Para mim um canditado analfabeto, corrupto e criminoso seria o melhor representante do nosso país. Nós nos corrompemos de cedo, na hora da pesca da prova, o que futuramente nos levará a um desinteresse pelo estudo e ao pré-vestibular, e depois a uma faculdade particular. "Dinheiro compra tudo".

Precisamos parar de ser esse povo medíocre que se conforma com o mínimo. Nós podemos mais. Muito mais. Nossa lábia de sem vergonha poderia servir não para abandonar os livros, mas para abraçá-los e conseguirmos ganhar a vida com discursos magníficos, não roubando qualquer coisa por aí. Eu acredito que poderíamos ser mais. Ainda acredito que um dia formaremos uma nação de seres mais humanos, de seres mais puros, de seres mais exemplares para os outros países. Na situação que estamos, somos um exemplo do que um caráter tão vagabundo trás ao nosso país.

Por que amamos tanto a nossa pátria na hora do futebol, na hora das olimpíadas, mas a ignoramos tanto na hora de ler e de escrever? Por que não usamos nossa lógica de que tudo é simples para estudar, para aprender, e não para roubar, matar, furar fila e desviar verbas? Por que nos conformamos tanto com o médio e não pensamos mais na nossa capacidade de ir além?

Sei que Machado de Assis não é tão fácil de interpretar, mas se valorizamos tanto a nossa pátria, por que não valorizamos o que é nosso? Por que nossos olhos não brilham mais ao lermos Carlos Drummond de Andrade? Por que não admiramos mais o Fernando Sabino? Por que as crianças não leem mais Manuel Bandeira e Monteiro Lobato? Por que não paramos mais para observar nosso cotidiano com as crônicas de Arnaldo Jabour e Luís Fernando Veríssimo? Por que gritamos para as telas de Crepúsculo e não gritamos para o melhor filme brasileiro, O Auto da Compadecida?

De tudo, o que fica mais claro é a mensagem do meu professor ao final da leitura: "O livro não sai perdendo nada com isso".


MarinaV.

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