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quarta-feira, 3 de março de 2010

Relato de um morto


Concluo, ao final de um ato de vida, partindo para a eternidade de alma, que a Morte não é apenas a ausência de vida. Depois de anos seguindo a essa ideia errônea, relato, agora, que a morte nada mais é um terminal da vida, uma reflexão de tudo que você fez.
Desde que tive conhecimento da Morte, tive medo do meu enterro. Sempre quis saber se o meu nome seria apagado após a minha Morte. Mas é algo tão patético e tão idiota, que a resposta é óbvia para os olhos dos que pensam. Respondi a essa minha dúvida com uma pergunta do coração: você esquece de quem você ama? Obviamente, a resposta é não. E quando você morre, o amor continua existindo, e acredite, no seu enterro e no seu velório estarão presentes pessoas que você nunca viu, e até pessoas que você duvidava da presença.
Eu, como defunto e após essa experiência marcante que é a Morte, posso muito bem explicar a vocês, caros leitores, o por quê de um medo tão inútil. Sim, inútil, afinal de contas, a Morte ninguém evita, é natural, é a sua única certeza durante toda uma vida, é algo que nós podemos modificar apenas antecipando ou adiando, nunca evitando ou fugindo dela. Voltando à explicação do medo, o homem só tem medo de duas coisas na vida, resumindo tudo: da Morte e do desconhecido. Como a morte é algo que quem está vivo desconhece, logicamente ela nem deveria ser separada da categoria "desconhecido". Mas nós separamos. Porque a Morte marca a sua vida, ou melhor, o final da sua vida. E é justamente por esse fato que tememos a ela, porque ela "acaba" com a nossa vida.
E porque pensamos assim? Porque achamos que ela "acaba" com a nossa vida?
Resposta óbvia também. O ser humano é um ser constituído de alma e corpo. A alma é o que podemos preservar para sempre, é o que temos de definitivamente bonito (ou apavorante, depende da pessoa). O corpo é aquilo que nós valorizamos pra nada, é aquilo responsável por nosso materialismo. Quando pensamos na Morte, imaginamos nosso corpo sendo inutilizado. E esse é um dos motivos do nosso medo. Também pensando na Morte, podemos pensar no quanto é ruim deixar de respirar, deixar de ter esse sopro maravilhoso que é a vida; podemos pensar no quanto será ruim deixar de sentir o prazer das coisas. Mas raciocine, pense bem, e você verá que esses prazeres nossa alma guarda, e já é de muita alegria carregarmos na alma boas lembranças. Isso é que faz com que ela seja leve, seja limpa, e é isso que nós carregamos por toda a eternidade. A lembrança de que um dia vivemos, que um dia respiramos, que um dia amamos e que nossa alma é a lembrança do bom da vida.
Caro leitor, durante toda uma vida, TODA UMA VIDA, o homem perde tempo refletindo sobre como vai morrer, o que vai acontecer no pós-morte, o que será do seu corpo, da sua alma, da sua família. Eu aconselho apenas isso: VIVAM! Não temam a Morte, simplesmente vivam. Um dia ela vai chegar, vai bater a sua porta quando você menos esperar, e de nada vai adiantar fazer as malas de última hora, tentar se despedir de alguém ou pedir desculpas. Para a Morte, você só possui alma. Nada mais do que isso. A sua alma é o reflexo das suas ações na vida, e cabe apenas a você viver bem a vida para constituir bem a sua alma.
Portanto, aqui ficam os dizeres deste morto que muito se arrepende de não poder ter seguido tais regras na vida: se você ama alguém, diga a essa(s) pessoa(s) todos os dias o quanto você ama ela(s), mostre o seu valor por ela(s); não deixe de se arriscar nas coisas por medo - às vezes, só temos uma chance de fazer aquilo, e perdemos uma grande oportunidade; faça aquilo que você tem vontade, nunca deixe que o estresse, o trabalho ou a falta de tempo lhe impeça de fazer algo, lembre-se que o tempo vai faltar futuramente, no encontro final da sua vida; "NUNCA deixe pra fazer depois aquilo que você pode fazer agora", um clichê que, se você não seguir, no seu encontro com a nossa querida amiga Morte, vai ter um grande peso de arrependimento.
Qual a imagem da Morte? Qual a melhor forma de morrer? E quando alguém muito próximo se vai, o que devemos fazer?
Leitor, não se abata com as barreiras da vida. A vida é para os fortes. "Ninguém vai bater mais forte do que a vida. Não importa como você bate e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando, o quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha", já dizia Sylvester Stallone. Não existe melhor forma de morrer. Em todas elas, a Morte será calma, doce e afável, lhe terá nos braços como a um filho e cuidará de você para evitar sofrimentos e rancores. A imagem da Morte? Como fez Macus Suzak em "A menina que roubava livros", "vá em um espelho e você descobrirá" qual a imagem da Morte.
Finalizo este texto, leitor, ressaltando a frase do querido Raul Seixas, um homem que, pode-se dizer, não teve medo da Morte: "A morte surda caminha ao meu lado e eu não sei em que rua ou esquina ela irá me beijar". Leitores, boa vida à vocês.


MarinaV. - 5 de dezembro de 2010.

Um comentário:

  1. Achei que tu escrevia bem, mas nem tanto! Se bem, que filho de peixe, peixinho é!
    Tá muiiiiiiiiiiiiito bom, cara, apesar do medo, eu AMEEEEEEI

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